Reflexão sobre a Internet, Bibliotecas Digitais e os Sistemas Educativos no Futuro.

A revolução tecnológica, com a ainda mais acentuada banalização dos computadores a que nos últimos tempos temos vindo a assistir, para a qual contribuiu muito a personalidade de Nicholas Negroponte do MIT, com a sua ideia original de um computador a 100 dólares para a educação (OLPC) e dedicado especialmente ao Terceiro Mundo, veio acelerar ainda mais a transformação da sociedade e do mundo em que vivemos.

A Internet e as bibliotecas da era digital, pela sua abrangência e universalidade vêm introduzir uma mudança de paradigma na democratização, no acesso a conteúdos e na produção de conhecimento, contribuindo para a construção de espaços virtuais, fluídos e navegáveis, onde a informação do mundo está ao alcance através de um simples click. São sobretudo ambientes virtuais, que podem facilmente ser incorporados nas actuais salas de aulas e que permitem a rápida disseminação da informação, a partilha e a colaboração digitais, potenciando múltiplas e inovadoras oportunidades de aprendizagem.

As bibliotecas digitais à semelhança de outros espaços virtuais na Internet, estão em construção e transformação permanente e o que hoje constitui o ambiente de web 2.0, será amanhã a web 3.0, centrada em alguma inteligência artificial e baseada em objectos de 3D (Web tridimensional ), da qual se poderá avaliar o enorme potencial, navegando no Second Life.

Neste ambiente rico de informação e universal, onde residem também as bibliotecas digitais, é prometedora a sua capacidade de contribuir para uma aprendizagem que efectivamente desperte o interesse, a sensibilidade e o gosto de cada indivíduo, conduzindo os sistemas de ensino a uma continuada inovação e um alcance sem paralelo, na criação e exploração dos conteúdos.

Em função desta explosão exponencial de informação e conhecimento ao alcance da humanidade, aliada às característica de interactividade on-line da Internet, os estudantes e os sistemas de ensino passam a estar em contacto (em tempo real) com todas as bibliotecas e informação do mundo, facilitando-se o acesso a conteúdos mais apelativos, novas culturas e principalmente novos instrumentos de interacção e socialização em rede. Em suma o desenvolvimento de "competências para a vida" será mais rápido e poder-se-á responder mais adequadamente às necessidades específicas de uma sociedade em rápida evolução.

Tudo isto se traduz numa dinâmica de mudança que vai impulsionar o sistema de ensino para níveis nunca antes conseguidos de democratização, partilha de informação e colaboração, que assistirão no desenvolvimento de novas e multifacetadas competências, e decerto irão transformar a nossa sociedade e a alteração do paradigma de um mundo de capital intensivo para o de conhecimento intensivo. Estudar num ambiente virtual na Internet é sinónimo de socialização acelerada e integrada à escala planetária, num modelo dinâmico e multi-disciplinar, em que as matérias e conteúdos de estudo estão em constante evolução, à semelhança do mundo em que vivemos, na era do conhecimento como é vulgarmente designado. "Não se exprima. Invente-se" (Peters, 2008: 195).

A Internet pela sua dimensão altamente tecnológica e de nível planetário, onde se poderá encontrar todo o tipo de informação, coloca no entanto alguns problemas aos cidadãos que lhe têm acesso e que ainda não possuem resolução fácil à vista. Trata-se da obrigatoriedade em dispor de competências digitais base, que muitas das vezes não estarão ao alcance do comum dos cidadãos, o que condiciona o acesso a este novo mundo digital e impede e limita a sua completa democratização.

Outra das barreira que a Internet, tal qual a conhecemos hoje nos coloca é a de, face à multitude de informação disponível, se poder discernir entre aquela que é a pretendida e fidedigna e todas as outras que o não são, ou até representam na sua grande maioria verdadeiro lixo electrónico. Que filtros e metodologias serão necessários para que quem acessa à Internet possa recolher informação credível e legítima, é um desafio actualmente para o ser humano e para a qual a única resposta de momento é a aquisição de competências, conhecimentos e capacidade crítica.

As limitações impostas pela Internet, atrás descritas, estão por sua vez associadas à acreditação de conhecimentos, isto é o reconhecer que competências e conhecimentos adquiridos em processos de aprendizagem autónoma ou informais, deverão ser reconhecidos pela sociedade. A acreditação de conhecimentos constitui pois um desafio para as comunidades de ensino formal, como as actuais escolas e universidades e qual o papel que estas irão desempenhar no futuro, com a cada vez maior profusão de informação na Internet e das bibliotecas públicas e consequentemente o crescimento das competências ganhas ao longo da vida, em processos de educação informais e fora do seio dos recintos escolares tradicionais.

A adopção massiva de sistemas de e-learning e uma urgente reinvenção da escola são processos entre muitos outros, que poderão responder às novas necessidades dos cidadãos em se adaptarem rapidamente à era digital e do conhecimento.

As tecnologia, sejam elas o machado de sílex, de bronze ou os mais avançados módulos de inteligência artificial à face da terra, só poderão significar progresso e evolução para a humanidade e para as sociedades.

Como tal, o avanço tecnológico, tal como a marcha do progresso são imparáveis e cada geração deverá ser preparada através do sistema de ensino (que deverá educar para a vida e para a mudança), de molde a que possa enfrentar as evoluções, revoluções e mudanças de paradigma, que o progresso impõe deliberadamente às sociedades. "Em termos tecnológicos o que se puder fazer será feito. Não poderemos evitar essas mudanças. Devemos é preparar-nos." (Grove, 1996: 15).

O progresso mais não é pois, do que um ambiente hostil idêntico a ambientes naturais tal como o que encontramos se nos colocarem de repente no meio de uma floresta inóspita, na qual temos que lutar pela sobrevivência. A resposta, nesta como na anterior, é uma característica inata e biológica dos seres humanos: a adaptação à mudança e é a única saída viável. "Se não gosta de mudança, ainda vai gostar menos da irrelevância." (Shinsek apud Peters, 2008: 17).


Francisco Gonçalves em 08 Nov 2008.


IT Architect at Softelabs

Apresentação - A edução e as bibliotecas em mundos virtuais no Second Life:


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Bibliografia:

Isaías, Pedro (1999), Bibliotecas Digitais. cap. 5, Lisboa, Universidade Aberta.

Peters, Tom (2008), Reinventar o Mundo !. Porto, Civilização Editores.

Grove, Andrew (1996), Só os Paranóicos Sobrevivem. Viseu, Gradiva.

s.a. (2005), E-learning in Tertiary Education: Where Do We Stand?. OECD Publishing.

Gadotti, Moacir (2004), "Informação, Conhecimento e Sociedade em Rede: Que potencialidades?". Página consultada em 05 de Novembro de 2008, Link da página.

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