A gestão de pessoas e a improdutividade nas empresas lusas - As tentações !

Decorridos mais de 36 anos de actividade profissional em que desempenhei vários funções, como Programador e Analista informático, Team-leader, Director de Departamento, Consultor Tecnológico, Gestor de Projecto entre muitas outras, sempre lidei com os colaboradores que intervieram directa ou indirectamente nos meus projectos, da mesma forma, isto é pautando-me pela exigência, primeiro a mim próprio, e depois exigindo aos outros não acima do que exigia a mim mesmo. Eu sempre acreditei na liderança pelo exemplo e ainda recordo a minha passagem fugaz pelo serviço militar e de como me era simples gerir pessoas, em condições que não eram as mais fáceis e sobretudo a
motivação ainda mais difícil, mas actuando com um principio simples e até básico : sempre que exigia algo era eu em primeiro lugar que mostrava e dava o exemplo, fosse o mergulhar num lago de água gelada pela madrugada ou atravessar um fosso. E desta forma nunca tive alguém que se tivesse negado a seguir-me, muito pelo contrário.


Com isto quero apenas salientar que a liderança se baseia em princípios simples, e sobretudo ao longo de todos estes anos não consegui entender porque entre muitos outros comportamentos perfeitamente irracionais em meu entender, a gestão e a liderança nas empresas tem sido um grande fracasso nacional, sobretudo porque enveredam por sistemas de controlo e de liderança, usando métodos que de alguma forma implicam quase sempre a tomada de posições de força sobre os seus subordinados. 


E acima de tudo não entendo sequer porque toda uma sociedade não consegue perceber o desaire a que conduzem estas suas posições na gestão de pessoas, com todos os inconvenientes para a produtividade, o trabalho de equipe e a falta de produtividade nas suas empresas. E admirem-se ainda pelos parcos resultados sempre obtidos. E no final estas chefias ainda são pagas pelo seu péssimo desempenho (que acho o mais hilariante ainda!!) e os seus trabalhadores mais competentes acabam despedidos, porque não acatam ordens arbitrárias e formas de fazer o seu trabalho absolutamente sem sentido e improdutivas, que lhes são impostas também arbitrariamente, na maioria das vezes.

Se não entendo estes comportamentos, pois há algo que sempre me intrigou ainda mais nas empresas portuguesas, muito embora alguns destes desvarios se possam encontrar noutros países, é PORQUE TENTAM TANTOS GESTORES E CHEFIAS CONTROLAR OS SEUS TRABALHADORES EM VEZ DE AFERIREM MÉTRICAS DE DESEMPENHO TRANSPARENTES E OBJECTIVAS ?

Se definir objectivos em vez de metodologias (na maioria obsoletas quando seguem princípios herdados há muitos anos na sua maioria), é tão mais elegante, eficaz e eficiente, então pergunto porque é que a grande maioria dos gestores lusos o não fazem?
Quando são confrontados com o desafio de transformar o talento dos seus colaboradores em desempenho, porque optam antes a maioria dos gestores e chefias por impor apenas e só como o trabalho deve ser feito ??
Cada gestor ou chefia terá as suas próprias razões que a razão mesmo desconhecerá, e talvez sejas apenas porque têm atracção pelo controle dos outros, que é demasiado tentador??!!

À primeira vista, estas tentações podem até parecer justificáveis, principalmente à luz de Frederic Taylor, mas a sua prática demonstra inexoravelmente que suga a vitalidade de qualquer empresa e diminui o seu valor, pela falta de motivação que origina e logo pela quebra de produtividade que se lhe segue.
Então fica a pergunta e também a minha falta de explicações lógicas para este comportamentos dos nossos gestores lusos, que preferem optar por usar o poder e o controle sobre a forma como se faz, e depois não dão qualquer valor ao resultado final, isto é ao valor produzido ?

Embora como é óbvio eu saiba que segundo as leis de Murphy "A consistência interna é sempre mais valorizada do que a eficiência". Mas tanto???!

Por entre muitos outros comportamentos desajustados de gestão que fui encontrando ao longo dos anos, este é talvez o mais aberrante e incompreensível principio com que me deparei, e que contribui
decididamente para a tão baixa produtividade em solo pátrio !
Decididamente, se queremos elevar a produtividade e competitividade do país, temos de desenvolver novos princípios de liderança inspirados em conceitos simples, assentes no respeito máximo pelos trabalhadores e sobretudo em conhecimentos baseados nos mais recentes avanços nos campos da neurociência e nos trabalhos e investigação em inteligência emocional e das multidões.

Falta sobretudo que o país evolua, estude e seja colocado a par dos mais recentes conhecimentos científicos em matéria de liderança e motivação de equipes, ou então que os Deuses nos ajudem !!
Resumindo, e conforme os princípios de Murphy, há em minha opinião, quatro enfermidades graves em politica e em gestão, neste país, que sendo levadas ao extremo, são a maior causa de improdutividade e incompetência nacional :
1) "O segredo do sucesso é a honestidade; assim que se aprende a fingi-la o sucesso está garantido."
2) "Nada tem tanto sucesso como a aparência de sucesso."
3) "A abordagem ao problema é mais importante do que a solução."
4) "A consistência interna é mais valorizada do que a eficiência."

Francisco Gonçalves
(francis.goncalves@gmail.com)
04-Sept-2011



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