Uma reflexão sobre a Nação e o vil bi-partidarismo
Portugal enfrenta um momento de profunda insatisfação com o sistema político, marcado por décadas de alternância entre os mesmos partidos, PS e PSD, que têm dominado o poder sem promover mudanças estruturais significativas. Este bipartidarismo criou uma dinâmica de debates parlamentares estéreis, frequentemente centrados em questões superficiais ou de interesse partidário, enquanto os problemas reais do país e as reformas necessárias são continuamente adiados. O resultado é uma crescente desconexão entre a classe política e os cidadãos, que se sentem abandonados por um sistema que não os representa e não responde às suas necessidades.
O problema agrava-se com a persistência de práticas de corrupção e nepotismo. A proximidade entre elites políticas e económicas consolidou uma estrutura de poder que serve interesses específicos em vez do bem comum. Cargos públicos e contratos estatais são frequentemente utilizados como instrumentos de favor político, minando a confiança da população nas instituições. Para piorar, a justiça raramente consegue responsabilizar os envolvidos em escândalos de corrupção, perpetuando um sentimento de impunidade que alimenta o desencanto com a democracia.
A economia do país reflecte esta estagnação. Portugal permanece preso a um modelo de baixos salários e alta dependência do Estado, onde o empreendedorismo e a inovação enfrentam barreiras impostas pela burocracia e pela falta de incentivos claros. A incapacidade de criar empregos de qualidade e oferecer oportunidades reais aos jovens contribui para a emigração de talentos, drenando o país das mentes que poderiam impulsionar o seu desenvolvimento. A pobreza alastra-se, e a maioria dos portugueses vive com salários que mal cobrem as despesas básicas, enquanto o custo de vida continua a aumentar.
O panorama mediático não ajuda a reverter esta situação. Os meios de comunicação, muitas vezes dependentes de subsídios estatais ou influências económicas, falham em desempenhar o papel de vigilantes do poder. Em vez de aprofundarem debates sobre as questões fundamentais que afectam o país, tendem a privilegiar narrativas sensacionalistas ou alinhadas com interesses específicos. Este jornalismo pouco crítico contribui para uma sociedade desinformada e desmotivada, incapaz de exigir as mudanças necessárias.
Apesar deste cenário, Portugal tem potencial para reverter esta situação. O sistema político precisa de ser reformado, começando por alterações na lei eleitoral que permitam uma maior representatividade e promovam a entrada de novas forças políticas e movimentos independentes. A corrupção e o nepotismo devem ser combatidos com medidas rigorosas, como tribunais especializados e leis que garantam a transparência e a responsabilização efectiva dos políticos e gestores públicos. A economia deve ser dinamizada com uma redução da intervenção estatal e incentivos ao empreendedorismo, à inovação e à diversificação sectorial.
Paralelamente, a sociedade civil precisa de desempenhar um papel mais activo na promoção de mudanças. Movimentos cívicos podem pressionar por reformas e exigir maior responsabilidade dos líderes políticos. A educação também deve ser central nesta transformação, com um foco no desenvolvimento do pensamento crítico e na promoção de uma cidadania participativa desde cedo. Finalmente, os meios de comunicação precisam de reconquistar a sua independência, priorizando o jornalismo de investigação e aprofundado, que responsabilize os poderosos e informe verdadeiramente os cidadãos.
A história de Portugal demonstra que, em momentos críticos, a sociedade portuguesa é capaz de se unir para superar desafios. Hoje, essa união é mais necessária do que nunca, para romper com um ciclo de estagnação que ameaça o futuro do país. A mudança não será fácil nem imediata, mas é possível se os portugueses exigirem e trabalharem por ela. O caminho para uma democracia funcional e uma economia próspera está ao alcance, mas depende da mobilização colectiva e da vontade de enfrentar o "status quo" vigente.
Francisco Gonçalves ( fasgoncalves)
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