Quem serve quem nesta democracia : O estado e os cidadãos !

Numa democracia como a nossa, cujas fundações são herdadas directamente do estado novo, e perante a euforia de uma suposta revolução de cravos, que desde logo alimentou a esperança e o sonho dos milhões de portugueses, que acreditaram finalmente poder ter liberdade no seu próprio país, e desde logo confiaram naqueles a quem as forças armadas delegaram o poder do país e também nos muitos oportunistas, que sorrateiramente se foram infiltrando no poder, mas que afinal sempre existem nestas circunstância de conturbação social.

O que os portugueses não poderia adivinhar, nem sequer sonhar (onde eu próprio me incluo com toda a modéstia), era que esse punhado de oportunistas que se infiltraram, em momentos de confusão social, e bem se posicionaram em lugares de destaque do então designado poder democrático, condenariam para todo o sempre, a então jovem democracia que estava a nascer.

E sem bem o pensaram, ou as coisas lhe correram de feição, o certo é que se foram apoderando da máquina do estado e da própria governação do país, primeiro através das célebres nacionalizações e o suposto controle da economia pelo "povo", depois alguns anos decorridos pelo processo inverso, ou seja as privatizações e pelas indemnizações de volta aos seus legítimos proprietários, tudo isto na maior conturbação e em negociações todas efectuadas à margem dos cidadãos, e logo sem qualquer transparência. Aqui foi o começo do fim, e como diz o ditado popular "quem parte e reparte fica com a melhor parte".

Fica pois claro que desde logo os cidadãos foram postos à margem de todas estas negociatas, e o estado, que em democracia era suposto ser pessoa de bem ao contrário do estado novo, passou a comportar-se exactamente com no passado, isto é a blindar o acesso à forma de governação e às contas públicas do estado, por parte dos cidadãos, mantendo estes, um Estado completamente hermético, nada transparente, e que de democracia apenas deixava aos cidadãos a liberdade de escolherem os seus representantes, de entre uma classe que se foi formando por entre uma "claque" de amigos, principalmente do oportunistas previamente instalados já no poder, logo se posicionando e distanciando muito do povo, ou seja tendo criado uma elite dos "auto-eleitos".
Ao povo, portanto ficou reservado exclusivamente o direito de irem às urnas escolher entre os "eleitos", assim constituídos oligarquicamente, aqueles que em cada momento poderiam ser os mais votados, para logo constituírem os sucessivos governos de Portugal.

Ao povo ficou ainda vetado na prática, qualquer esclarecimento sobre as contas públicas, inverteu-se e subverteu-se mesmo o conceito de democracia e o povo passou a constitui a massa disforme que, escravizada a cada ano que ia passando, e passou a trabalhar para alimentar o Estado, ou seja a grande máquina toda poderosa (ou o Monstro, como ficou conhecido) que comandado pelos grandes senhores que se esconderam e escondem, por detrás do tal poder, a que ainda hoje chamam de democracia. Na prática o povo, tal qual poder medieval, foi sendo sobrecarregado com impostos e mais impostos, num sistemas sem justiça ou equidade fiscal, onde uns pagavam e pagam muito e outros pouco ou nada, e tudo isto de forma arbitrária e ao sabor de leis que umas vezes eram cumpridas, outras eram perfeitamente ignoradas.

Instalou-se na prática um sistema todo poderoso, cuja maior força consistia e consiste em ser "forte com os fracos e fraco com os fortes". E assim se viu todo um povo colocado de forma absolutamente servil e sem qualquer hipótese prática de intervir na sociedade, que não através do sistema de partidos, que passaram a constituir a casta "pensante" e de "auto-eleitos", orquestrados sob a forma de clubes elitistas, a que só alguns poderiam ter acesso, mas apenas se se comprovasse podiam integra-se no sistema e jogar as regras viciadas e pré-estabelecidas.

Ficou claro que este sistema nada tinha de democracia, à parte de alguma liberdade de expressão concedida aos nativos cidadãos e o seu "sagrado" direito a participarem "civicamente" nos actos eleitorais, e apenas podendo escolhendo de entre a classe dos "auto-eleitos", quem os viria, e na mais perfeita alternância de poder, a representar ???, ou seja a governar o país.

E assim temos vindo a suportar, como cidadãos, as agruras de viver no país em que nascemos, mas governados sob uma autêntica hegemonia de poder, e sem direito a qualquer transparência na governação, por uma casta de "auto-eleitos", que se apoderaram da democracia e a aprisionaram em seu proveito próprio. E servindo-se apenas do povo para os sobrecarregar com mais e mais impostos, à medida que o estado (ou o Monstro) continuava cada vez mais a devorar ferozmente, e mesmo exaurir os recursos do país, não deixando qualquer margem para investimentos no futuro da nação, ou sequer tentada alguma vez a mínima estratégia para o desenvolvimento futuro do país.

Ao longo de 37 sucessivos anos deste regime, como cidadãos apenas nos tem sido permitido votar e assistir perante a mais miserável impotência, à alternância de duas forças politicas, pertencentes à mesma classe de "auto-eleitos", que se vão dividindo no poder. E que de cada vez que o tomam sob o seu comando, apenas têm vindo a deixar o país mais pobre e com mais dívidas, até termos atingido a actual situação da mais criminosa falência económica e social (isto porque esta era perfeitamente evitável e por demais previsível há pelo menos 8 anos atrás), que é tão simplesmente a crise mais grave da história da Nação, com mais de 800 anos de existência.

Aquilo que em democracia deveria ser a prática dominante, isto é um estado e um governo ao serviço dos cidadãos e gerindo sob rigorosa responsabilidade o país e os seus recursos, foi sendo invertido pela casta de "eleitos", que se apoderou e tornou refém a própria democracia, tendo igualmente subvertido a mesma, e colocando ao invés os cidadãos escravos do estado e do seu próprio governo de "auto-eleitos", ou melhor dito, a casta dos "escolhidos".

E desta forma nós cidadãos, temos ao longo destes 37 anos de suposta democracia, vindo a suportar e mesmo a ser submetidos por completo a um estado (autenticamente infernal), ineficaz, ineficiente, burocrático, muito mal gerido, e pelo qual os contribuintes estão, e estiveram sempre a pagar potenciais serviços que o estado lhes poderá vir a prestar, por preços que poderiam custar 3-5 vezes menos, se este fosse eficiente e estivesse efectivamente ao serviços dos cidadãos, como seria suposto numa democracia séria e comprometida com o seu povo.

O País está na mais absoluta falência e o Estado (todo poderoso e intocável até agora!) continua, na mais perfeita impunidade, a gastar aquilo que nós não conseguimos já pagar de todo, e apesar desta gravidade, reinando a mais abominável insensatez politica. Esta democracia, para além de muitas outras disfunções, tem carregado consigo uma característica bem doentia, que é a ideia de que, é o povo que serve o estado e não o contrário, que aliás herdou do estado novo, não de forma inocente, mas premeditadamente desenvolvida ao longo de todos estes anos, por toda uma classe dominante que já referi, se apoderou do país de forma escandalosa e aprisionando mesmo o estado de direito, tornando-o numa autêntica oligarquia, mas sempre sob uma máscara de democracia.

Independentemente de outras soluções que venham a ser encontradas, e que o próprio FMI e as instâncias de poder da UE nos venham fatalmente a impor, urge que esta "elite" de poder entenda, de uma vez por todas, que já não pode mais esconder um Estado Monstruoso que continua a escravizar os cidadãos, e que finalmente seja revertido o paradigma da democracia de verdade, e que o Estado seja devidamente reformado, prontamente re-estruturado e finalmente submetido à sua única e cabal funcionalidade, que é a prestação de serviços de qualidade aos cidadãos, e que por isso pagam hoje uma das maiores taxas de impostos dos países da Europa.

Mas é tal o estado de caos e de desnorte que nos atinge a todos, políticos e cidadãos, que aparentemente ninguém percebeu que a primeira coisa que há a fazer é re-estruturas e ajustar o aparelho do estado (cortando os custos de funcionamento e os desperdícios) e colocá-lo a funcionar de modo a que seja este a servir os Cidadãos, que muito honestamente e da forma mais dura que se pode imaginar, pagam pelos serviços (embora maus) que o estado potencialmente lhes presta!!

E se finalmente todos entendermos o estado do nosso estado, a forma como temos vindo a ser governados, e o perspectivarmos de forma realista, iremos por certo, todos finalmente entender e compreender que tudo, mas tudo está errado em Portugal, inclusive a suposta democracia em que aparentemente vivemos! E tudo mas tudo vai ter que mudar, para o bem futuro dos portugueses de hoje e as gerações vindouras e também da Nação!

Francisco Gonçalves
15 April 2011
francis.goncalves@gmail.com

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