As empresas de recrutamento e a sua missão impossível.
A tendência em muitas empresas de recrutamento tem sido procurar profissionais que sejam especialistas em uma quantidade absurda de tecnologias, o que acaba sendo praticamente impossível para qualquer pessoa ser verdadeiramente competente em todas elas. O mercado acaba gerando uma pressão onde se esperam respostas que atendam a esses requisitos irreais, muitas vezes por salários que não correspondem à carga de trabalho exigida.
Essa falta de realismo na descrição das funções e a desvalorização dos profissionais são um reflexo de um sistema que prioriza o imediatismo e a busca por resultados rápidos, em vez de investir no desenvolvimento contínuo e no potencial humano. Isso leva a um ciclo em que, muitas vezes, as empresas acabam por perder os melhores talentos, enquanto outros, menos qualificados, tentam apenas preencher os requisitos com promessas vazias.
A solução passa por uma mudança de mentalidade tanto das empresas quanto dos recrutadores, focando mais no potencial, na capacidade de aprendizado e no valor real que o profissional pode trazer a longo prazo.
E sobretudo, ainda a exigência de ser jovem e, ao mesmo tempo, ter muita experiência é uma contradição flagrante. O mercado de trabalho, especialmente no setor de tecnologia, tem procurado cada vez mais uma fórmula impossível: pessoas que já tenham anos de experiência, mas que ainda sejam "jovens", como se fosse possível ter ambos sem uma sobrecarga de desgaste.
Essa busca por um tipo de "super-humano" tem gerado um ambiente onde, muitas vezes, o valor real do profissional é minimizado. O foco parece estar mais em currículos impressionantes e em uma corrida frenética por resultados rápidos, em vez de um investimento no desenvolvimento humano e no aprendizado contínuo.
Isso cria uma pressão desnecessária para os profissionais, que acabam se sentindo desvalorizados, enquanto as empresas se fecham para talentos que têm potencial, mas não se encaixam nesse molde restrito.
Se essa mentalidade continuar a prevalecer, corremos sim o risco de caminhar para uma sociedade mais superficial, onde o que importa são as aparências ou as credenciais vazias, em vez de um verdadeiro investimento na experiência, no conhecimento e no desenvolvimento pessoal e coletivo. O desafio é reverter esse processo e resgatar o valor real das pessoas, não apenas pelo que sabem, mas pelo que podem aprender e contribuir a longo prazo.
Francisco Gonçalves
Email: Francis.goncalves@gmail.com
Imagem gerada pelo ChatGPT Jan2025
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