O Politicamente Correto e a Estagnação Nacional
O Politicamente Correto e a Estagnação Nacional
O "politicamente correto" tornou-se, na verdade, um rótulo conveniente para tudo aquilo que encaixa na mediocridade dominante, a mesma que impede o país de se renovar e reinventar.
Não é considerado "politicamente correto" afirmar que o sistema de ensino em Portugal tem falhado ao formar alunos incapazes de pensar criticamente e de questionar o mundo ao seu redor. Também não o é dizer que a baixa competitividade e produtividade das empresas portuguesas se deve, em grande parte, a uma geração de gestores ultrapassados, que insistem em modelos de comando e controlo obsoletos, inspirados em estruturas organizacionais tayloristas, completamente desajustadas ao século XXI.
Diagnosticar de forma séria e corajosa os problemas estruturais do país parece ser sempre um tabu, pois as conclusões seriam consideradas "politicamente incorretas" e desconfortáveis para o poder instituído. Assim, evitam-se debates profundos sobre as causas reais dos problemas e perpetuam-se soluções paliativas, que mais parecem "caldos de galinha", administrados com extremo cuidado, mas sem eficácia real.
Sem um diagnóstico honesto e aceite, o "doente" – o país – tem sido tratado de forma ineficaz, arrastando-se e definhando até à sua completa exaustão.
Não é, portanto, surpreendente que Portugal continue a exibir estatísticas preocupantes:
Mais de um milhão de analfabetos;
Cerca de três milhões de analfabetos funcionais;
Um dos índices de literacia mais baixos da Europa;
Taxas de pobreza que já rondam os 22% da população.
O mais alarmante é que a maioria dos portugueses parece ter-se resignado a esta realidade, vivendo num estado de letargia coletiva, como que anestesiados, à espera de um "D. Sebastião" redentor que, mais uma vez, nunca chegará.
Guerra Junqueiro, em 1849, descreveu este povo com uma lucidez arrepiante, e, mais de 170 anos depois, continuamos fiéis a essa mesma inércia.
Se olharmos para a história do país há um século, verificaremos que os erros se repetem de forma quase cíclica. O National Geographic, há cerca de 100 anos, descrevia Portugal como um país mal governado, com uma classe política profundamente corrupta – e, lamentavelmente, essa definição permanece assustadoramente atual.
Fernando Pessoa já refletia sobre esta mesma realidade:
> "Na baixa política está bem. Para ser baixamente político basta saber intrujar os outros, e a ciência é completa quando o indivíduo sabe começar por intrujar-se a si mesmo. Para isso basta uma mentalidade confusa, uma vaidade acentuada, a capacidade de falar muito sem dizer nada. Basta não raciocinar, porque o raciocínio dissolve as qualidades de afirmação dogmática que são necessárias para dominar o espírito confuso e místico do povo."
(Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo, João Alves das Neves)
A este conformismo social e político eis o alerta de Bertolt Brecht:
> "O pior analfabeto é o analfabeto político."
Está na hora de Portugal acordar deste sonambulismo. Precisamos de um debate honesto, sem filtros de conveniência, sobre as reais causas do atraso nacional. Só assim poderemos traçar um caminho de regeneração e verdadeira mudança.
Francisco Gonçalves
(E-mail: francis.goncalves@gmail.com)
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